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Wachuma e Chakana: medicinas ancestrais dos povos andinos

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Me curvando à sabedoria ancestral da cordilheira dos Andes para honrar o Wachuma (também conhecido como San Pedro), trago alguns conhecimentos relevantes, que certamente podem auxiliar um olhar mais amoroso para esta medicina.


Este cacto sagrado, que cresce como uma coluna verde e firme em solo andino, é a medicina vegetal que carrega a chave para a compreensão da Cosmovisão Andina.


Ele é a ponte entre as três dimensões sagradas do cosmos, guiado pelos espíritos das montanhas:

  • Hanan Pacha (O Mundo de Cima, o Celestial)

  • Kay Pacha (O Mundo do Meio, o Presente)

  • Ukhu Pacha (O Mundo de Baixo, o Interior, dos Ancestrais)


O Wachuma nos ajuda a alinhar a consciência nessas três realidades, nos conectando com os elementos e elementais da natureza.


O nome quéchua Wachuma significa, em essência, "o que nos leva à pureza", ou "o que retira o pesado". O nome San Pedro foi atribuído pelos colonizadores, em alusão a São Pedro, o guardião das chaves do céu, refletindo o poder da planta de abrir a porta da percepção e da espiritualidade.


O uso ritual deste cacto remonta a milênios nas culturas andinas do Peru e Equador. Ele é o coração das cerimônias andinas e das mesas de cura (altares xamânicos) por uma razão profunda:


Apus, Pachamama e o Jaguar

O Wachuma opera dentro de uma tríade sagrada:

  1. Apus: Os espíritos das montanhas. O Wachuma é uma antena que dialoga com a força e a sabedoria dessas montanhas, trazendo clareza e poder ao iniciado.

  2. Pachamama: A Mãe Terra. O cacto cresce de seu corpo e, ao ser ingerido, reconecta o coração humano ao ritmo e à sustentação da Terra.

  3. Jaguar: O cacto é conhecido por harmonizar a consciência com os poderes de seres fortes, sendo o Jaguar o totem animal mais próximo desta medicina, oferecendo proteção e visão noturna, segundo as tradições andinas.


O Wachuma é tradicionalmente usado para combater feitiçaria, desfazer mágoas, alinhar o coração, dar força e firmeza para combater a ansiedade, stress e depressão.


É um cacto que pode atingir mais de dois metros de altura.


Sua medicina é devida, principalmente, à presença da mescalina, um alcaloide psicoativo que facilita o estado alterado de consciência, que amplia a percepção e o autoconhecimento. A mescalina também é encontrada no Peyote, mas o uso andino do


Wachuma possui um contexto ritual único.

O wachuma é visto como um Ser Vivo, um mestre que ensina. Sua espiritualidade é de extrema paz e clareza, que nos convida à alegria e à aceitação da nossa jornada.


💚 Preparação e ritos andinos

A preparação e o uso do Wachuma são atos de devoção e rezo, sempre conduzidos por pessoas experientes.


O cacto é limpo, picado e na maioria das vezes cozido lentamente em água por longas horas. Este cozimento é um rezo contínuo, onde se canta, se sopra e se reza sobre o fogo para que a medicina seja potencializada com a intenção de cura. O líquido final é amargo e terroso.

Em cerimônias, o Wachuma é consagrado junto a oferendas (despachos ou pagamentos), que são feitos à Pachamama e aos Apus.

Oferendas Comuns: Folhas de coca, sementes, flores, doces, lã de lhama e incensos são dispostos no altar (mesa) para pedir permissão e agradecer o caminho.

Durante a consagração e a jornada, Maestras e Maestros conduzem os participantes com cantos sagrados (ícaros ou cantos de Wachuma). Estes cantos não são apenas músicas; são veículos de cura e orientação, direcionando a energia da medicina para o propósito desejado:

"Wachumita, és toda poderosa, Wachumita és toda poderosa,

limpia nuestro corazon, limpia nuestro sentimento, watchumita sagrada”,


Minha compreensão sobre esta medicina e assuntos ligados a tradição andina têm como base o conhecimento ancestral e o estudo de fontes confiáveis, como o material de pesquisa e divulgação sobre xamanismo e medicinas da floresta presente em sites como http://xamanismo.com , do pesquisador e xamã Wagner Frota, ao qual tive a honra de caminhar ao lado em uma linda imersão em Machu Pichu, há mais de 10 anos atrás, onde conheci esta sagrada medicina.


Senti de trazer aqui também alguns conhecimentos sobre a Chakana e os animais totêmicos, pois são conhecimentos que chegaram até mim após me conectar com esta medicina.


A Chakana, ou Cruz Andina, é o símbolo geométrico mais importante e representativo das culturas dos Andes (Inca e pré-Inca). Mais do que uma simples cruz, ela é um mapa cósmico, um calendário e um guia moral.

O desenho consiste em um quadrado central com degraus em cada um dos seus quatro cantos.


  • A Estrutura Escalonada: Cada canto (ou braço) possui três degraus, totalizando 12 pontos nas bordas. Esses degraus representam:

    • Os Três Mundos (Pachas): Hanan Pacha, Kay Pacha, Ukhu Pacha.

    • Os Três Princípios Morais Incas: Ama Sua (Não roubar), Ama Llulla (Não mentir), Ama Quella (Não ser preguiçoso).

    • Os Níveis de Consciência: Desde a razão mais terrena até a percepção mais espiritual.

  • Os Quatro Braços: Representam as quatro direções cardeais e os quatro elementos.

  • O Círculo Central: É o Eixo do Mundo (Eje del Mundo), o lugar de onde tudo irradia e para onde tudo retorna; o centro da união e o princípio de toda a vida.

A Chakana é, portanto, a bússola que orienta o ser humano a viver em harmonia e reciprocidade (Ayni) com o universo.


Os Animais Totêmicos E Os Três Mundos (Pachas)

Na cosmovisão andina, cada um dos três mundos (Pachas) é representado e guardado por um animal totem sagrado. Esses animais não são apenas símbolos; eles são mestres que ensinam as qualidades necessárias para se mover entre as dimensões da existência.


1. Condor: O Guardião Do Hanan Pacha (Mundo De Cima)

O Condor (Kuntur) é o pássaro mais majestoso das montanhas.

  • Significado: Representa o Hanan Pacha, o mundo superior, celestial.

  • Medicina: É o mensageiro entre os deuses (os Apus) e a humanidade. Sua medicina ensina a visão ampla, a elevação da consciência, a gratidão e a liberdade para transcender as limitações terrenas. O Condor nos lembra de levar nossos rezos (nossa fumaça, nossas oferendas) para o alto.


2. Puma / Jaguar: O Guardião Do Kay Pacha (Mundo Do Meio)

O Puma (ou o Jaguar, dependendo da região) é o grande predador que caminha na terra.

  • Significado: Representa o Kay Pacha, o mundo do presente e da vida na Terra.

  • Medicina: É o símbolo da força, da coragem, da inteligência e da ação no mundo físico. Sua medicina ensina a caminhar com dignidade e poder, a proteger o território e a viver com foco no presente.


3. Serpente: A Guardiã Do Ukhu Pacha (Mundo De Baixo/Interior)

A Serpente (Amaru) é o animal que rasteja no chão e se move para o subsolo.

  • Significado: Representa o Ukhu Pacha, o mundo interior, dos ancestrais e da transformação profunda.

  • Medicina: É o símbolo do conhecimento ancestral, da cura, da renovação e do ciclo de vida-morte-renascimento. Ao se despir de sua pele, a Serpente nos ensina a nos desapegar do passado, a queimar o que não serve (como fazemos no Fogo Sagrado) e a acessar a sabedoria que está na raiz de tudo.


A Chakana e seus animais totêmicos são, juntos, um convite para o equilíbrio: ter a visão do Condor, a força do Puma/Jaguar e a sabedoria de cura da Serpente.


O Wachuma, com sua delicadeza e força ancestral, ao nos conectar com essas forças, nos torna caminhantes conscientes desses três lindos mundos, ensinados pela tradição andina.


Madrinha Lua



Espero que tenha gostado deste artigo!


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