Sabedoria do Inverno: A Profecia da Mulher Búfalo Branco e a Renovação Espiritual
Um pouco de história, para aquecer nosso inverno...
A Mulher Búfalo Branco, a Anciã Feiticeira do Norte, Senhora dos Sonhos e das Revelações, trouxe muitos ensinamentos quando apareceu no nosso mundo há muitas luas atrás, durante um período de muita fome, guerras e desavenças entre vários povos.
A Mulher Búfalo Branco é uma figura de grande importância na cultura Lakota, indígenas que habitam as Grandes Planícies da América do Norte.
Essa energia ainda vive nos corações de diversas pessoas, especialmente estudiosos e caminhantes das práticas xamânicas, buscadores, rezadoras e rezadores, temazcaleiros, homens e mulheres de fogo, dançantes, homens e mulheres medicinas, bruxas, magos, peregrinas, peregrinos e praticantes do caminho vermelho. Sua história está entrelaçada com profecias, sabedoria ancestral, ritos sagrados e um profundo simbolismo que transcende o tempo e o espaço, é longa, mas hoje venho trazer algo sobre essa energia.
Diz a lenda da Mulher Búfalo Branco que, há muitas luas, tantas que já não se pode contar, um grupo de índígenas Lakotas haviam saído para caçar. Dois deles, viram surgir a leste, quando o sol saía no horizonte, uma estranha porém encantada figura que avançava em direção a eles. À medida que se aproximava, deram-se conta que era uma bela mulher, trajada em um belo de vestido de couro, portando uma linda bolsa.
Vendo-a tão bela, um dos caçadores sentiu um grande desejo e contou a seu companheiro, mas este, alarmado, o advertiu que seguramente se tratava de uma mulher wakan (sagrada), que servia de intermediária entre o Céu e a Terra e que, portanto, não lhes eram permitidos tais pensamentos, nem mesmo pensar em afetá-la de alguma forma. Mas estando já a poucos passos, a mulher chamou o jovem que se sentia atraído e uma grande nuvem desceu e os ocultou. este homem, virou pó, e pedaços de esqueleto.
“Não esqueças o que acabas de ver!”, disse a mulher ao outro caçador Lakota, e continuou: “Venho apenas trazer uma mensagem a teu povo e devo falar com teu chefe. Vá e diga a ele que levante uma grande tenda e reúna nela toda comunidade.”
Algumas outras instruções foram dadas, o indígena voltou rapidamente ao acampamento e relatou o ocorrido. Sem perder tempo, o líder ordenou que se montasse um grande tepee cerimonial, seguindo as instruções da Sagrada Mulher. O Teppe representaria a imagem do Gran Abuelo Universo; para construí-lo, foram colocados estacas em um círculo, cada uma das quais representando um aspecto do mundo, da coluna vertebral, dos ossos...de um Abuelo.
O círculo completo simbolizava a totalidade do universo, Wakan Tanka, o Grande Espírito, centro e sustentação da Criação, de onde se originam e para onde retornam todos os seres.
A Mulher Sagrada chegou na aldeia e caminhou por todos os tepees, olhava para leste, pois este é o lugar onde surge o sol e de onde vem, consequentemente, a luz e o conhecimento. Andando em círculos no sentido do sol, dirigiu-se ao líder, que ocupava seu lugar no fundo da tenda, no lado oeste, de frente para a entrada.
“Veja o que trago para vocês!” Exclamou, enquanto sustentava nas mãos a bolsa de mistério. “Esta bolsa guarda a Chanupa, uma Pipa Sagrada; devereis amá-la, honrá-la e venerá-la por vidas e vidas, porque levará vocês, vossos filhos e aos filhos de vossos filhos para um caminho que conduz a Wakan Tanka. Através dela, especialmente nas cerimônias e nos invernos, enviareis vossas mensagens, agradecimentos e pedidos ao Grande Espírito.
Ele receberá!”
Levantando o cachimbo ao céu para que o tabaco subisse ao espaço, a Mulher Celeste acrescentou: “Vim para instruí-los no uso desta ferramenta de rezo. Com ela caminhareis pedindo pela Terra que é vossa Mãe, como se cada passo fosse uma oração, pois ela lhes dá a vida e seu seio alimenta tudo que existe. Deveis lembrar que a Terra está cheia de mistério, pois nela vocês põem os pés e a partir dela elevais vossas orações ao Grande Espírito, que está no Céu e é vosso Pai.
"Quando rezardes, levantem a mão ao espaço e depois a encostem no chão, pois provém do Céu a voz do nosso espírito e da Mãe Terra a voz do nosso corpo, e para terra voltaremos.” A pipa será vossa intermediária, já que seu consagrar sagrado se eleva até às alturas. Por ela, quando celebrardes este rito, deveis saudar e oferecê-la às sete direções: os quatro pontos cardeais, ao céu, à terra e ao seu coração.”
A Mulher Sagrada mostrou o Fornilho para explicar: “Assim como o fumo representa o Céu, o Fornilho é o símbolo da Terra, do ventre, da força feminina, a Haste, símbolo da sua caminhada, da energia masculina de força e poder. Por este motivo, fabricareis este em madeira e pedra vermelha, pois esta é a cor e energia da Terra.
Referindo-se logo a outros conhecimentos a Mulher wakan continuou: “A haste é de madeira, também imagem da Terra, pois representa tudo que cresce sobre ela. Olhem agora as quatro tiras de cores em minhas vestes, em minha bolsa e em minha chanupa: vermelho, amarelo, preto e branco, são as Quatro raças presentes no Universo. "
Por último, a Mulher falou de penas: “As doze penas são de Wambali Galeshka, a Águia, que é capaz de ver tudo que há na terra e no céu, porque voa mais alto que todos e representa todos os povos alados.”
Deixando de lado a Chanupa, sua Pipa Sagrada tomou então uma pequena pedra que trazia em sua bolsa de mistério: “Este seixo é da mesma pedra vermelha que o fornilho e é a terra na qual deveis viver. Por isto, vocês são o povo vermelho e devem seguir o caminho vermelho, que une o norte e o sul, pois é uma estrada onde caminhará em beleza. A partir de agora, a Pipa Sagrada estará nesta terra vermelha e com ela elevareis vossas orações, passando esse conhecimento para rezadores das futuras gerações.”
Continuando, explicou os ritos que deveriam ser realizados com a Chanupa:
O círculo maior representa o primeiro que vou ensinar: a custódia e proteção do wanaghi, a alma. Mediante este ritual, purificareis as almas dos mortos e acrescentareis vosso amor aos que nascerem. Enterre entes queridos sempre com cantos, chanupas e orações.
Inipi, também conhecido por Sauna Sagrada ou Temazcal, Ritual do nome ao nascer, Ritual da Cura do Corpo Mente e Alma, Ritual de Casamento, Busca da Visão, Dança do Sol, Ritual de Parentesco e Invocações Espirituais, estes foram os ritos deixados por esta entidade de luz. Nesta noite, explicou a cada um o que cada rito significava para a humanidade, dando voltas e voltas ao redor do fogo sagrado, sempre com seu cachimbo aceso, ofertando ervas ao fogo, defumando todo o ambiente e entoando cantos sagrados.
Ao nascer do Sol, a Mulher Wakan se preparou para sair e se dirigiu uma última vez ao líder e seu povo. “Olhem esta Chanupa, esta Pipa Sagrada! Ela os unirá com todos os vossos antepassados, vosso Avô e Pai, vossa Avó e Mãe. Lembrem sempre de quão venerável ela é e a tratem com a consideração que lhe é devida, pois lhes foi dada como missão espiritual, para que obtenham mais sabedoria, conselhos e conhecimento. Ela os fará lembrar de mim e do Grande Mistério, pois estaremos unidos e velando por vocês. Um dia, eu voltarei.
Eu sou Petskal Win, a Mulher Búfalo Branco, venho para trazer-lhes a mensagem do Grande Espírito e, ao mesmo tempo, sou a encarnação da Terra, pois represento tudo que existe e cresce nela.
"Finalmente saiu da tenda, dando a volta pelo lado norte, e começou a afastar-se. Contudo, pouco depois se deteve e se sentou de frente para o acampamento. Ao se levantar, havia se convertido em um búfalo vermelho que, alguns passos mais adiante revirou-se no chão, olhando novamente para o povo. Seguiu caminhando, para novamente revirar-se na terra e se transformou num búfalo amarelo, que, depois de se inclinar nas Quatro Direções do universo, se tornou preto, e após girar os quatro pontos cardeais, afastou-se até que sua figura ficou oculta por detrás da colina de onde havia surgido, se transformando em um búfalo branco...virando as costas, sumindo na poeira, igual fumaça..."
Essa lenda é linda, enorme, e existem muitos registros bem detalhados sobre ela de diversos autores, mas o que gostaria de trazer sobre essa energia é...
Sabedoria do Inverno
O inverno, em sua quietude e introspecção, assume um papel de grande importância para praticantes do xamanismo. É nesse período de introspecção que a natureza se recolhe, permitindo um momento propício para a reflexão interna, rezo e o contato com o mundo espiritual existente em seu subconsciente.
No universo xamânico, o inverno representa a morte, o fim de um ciclo e a preparação para novas fases. É um momento de escuridão, mas também de grande potencial para a transformações. O inverno nos convida a mergulhar na escuridão interior, buscando sabedoria e força para renascer.
Nesse contexto, a figura da Mulher Búfalo Branco surge como um arquétipo poderoso e inspirador. Segundo a profecia Lakota, a Mulher Búfalo Branco trouxe consigo uma mensagem de paz, união, e cura para a humanidade. Sua aparição marcou o início de uma nova era de harmonia entre o ser humano, o rezo e a natureza.
A Mulher Búfalo Branco representa diversas qualidades essenciais, tais como…
Sabedoria, pois Ela detém o conhecimento ancestral e a compreensão profunda dos ciclos da natureza.
Força: Sua força interior emana da força do rezo como conexão com o Grande Espírito e com a Mãe Terra.
Compaixão: Sua natureza guia aqueles que buscam cura e transformação através de ritos sagrados que nos religa a nossa ancestralidade
Transformação: Ela simboliza a morte do ego, e o renascimento espiritual.
Como se conectar com a Energia do Inverno?
Para aproveitar a energia transformadora do inverno e conectar-se com a sabedoria da Mulher Búfalo Branco, podemos realizar algumas práticas e vão aí algumas dicas simples:
Meditação: Através da meditação, momentos de silêncio, jejum e isolamento, podemos nos conectar com a quietude interior e buscar insights sobre nossos erros, acertos, desafios e oportunidades. Confie no silêncio, só fale se precisar. Cuidado com suas palavras, elas tem poder.
Visões: Podemos acessar o mundo espiritual e pedir orientações vindas da energia sábia da Mulher Búfalo Branco através do uso do cachimbo.
Sonhos: Os sonhos podem revelar mensagens importantes sobre nosso caminho espiritual, pois estão em nosso subconsciente, tenha tenção a eles.
Gratidão: Praticar a gratidão pelos ensinamentos recebidos em todas as estações nos abre para novas oportunidades. Não vale a pena reviver e remoer sofrimentos nem situações que lhe fizeram mal, eles estão no passado.
Observe as próximas experiências, planeje, deixe fluir, se acolha, aceite, mude o que for pra mudar, se abra para o novo, reveja cautelosamente seus pensamentos, suas atitudes ligadas a sua área profissional, observe atentamente seus sentimentos e seu compromisso com sua missão espiritual. Perceba onde está sua força, seja verdadeiro com você e suas relações mais próximas. Observe atentamente o afastamento de outras. Agradeça cada ensinamento vindo de cada uma delas.
Na Roda Medicinal o totem animal é o Búfalo Branco. No período do Inverno, o Búfalo Branco solta uma grande quantidade de fumaça branca, simbolizando a fumaça do Cachimbo Sagrado, instrumento de preces e ação de graças. É através da fumaça do cachimbo que nossas preces chegam a Wakan Tanka. O ar, ou melhor, o Vento ( o ar em movimento ) é o elemento que rege esta direção. Representa também o Reino Animal, e a palavra animal abrangendo tudo o que é animado ( 4 pernas, 2 pernas, criaturas aladas, insetos, peixes…)
Essa estação nos oferece uma oportunidade para revermos tudo aquilo que aprendemos em nossa vida e aprendemos com quem e como compartilharmos essa sabedoria. Ela representa os buscadores de conhecimentos que nos oferecem novas visões da humanidade e também os sábios e anciões que serviram -nos de inspiração através dos tempos. Honramos nossos ancestrais.
Incorporamos os conhecimentos de Fonte Superior, para entender melhor a vida na Terra. Nós integramos nossas experiências em nossas palavras, pensamentos e ações.
O inverno é um tempo para começo e fim, morte e vida, nova vida embutida numa morte aparente. No inverno a terra aparenta estar morta, no entanto há muita coisa acontecendo lá. O mesmo acontece na vida humana. Mesmo quando nos libertamos de nossos envelopes humanos, nosso Espírito, nossa energia vai para um lugar que nos prepara para um novo começo que virá.
O inverno, com sua energia introspectiva e transformadora, oferece um momento único para aprofundarmos nossa conexão com o mundo espiritual e com a sabedoria ancestral. Através das práticas xamânicas e da conexão com a Mulher Búfalo Branco que no fim, representa o rezo sagrado, podemos encontrar força, sabedoria e compaixão com nós mesmos, para navegar pelos desafios da vida e contribuir para a criação de um mundo mais harmônico.
É indicado focar energias no que te faz bem e não desperdiçá-las.
Período para olhar mais para o nosso interior a fim de encontrarmos uma nova fonte de luz e regeneração. Marca o inicio de um novo ciclo, onde a Terra se regenera.
Segundo a roda medicinal o Espírito Guardião do Norte (no Sul para nós) : é representado pelo Elemento Vento (Ar). A estação é o inverno. A hora do dia é a meia-noite, tenha atenção neste horário se estiver sem sono, respire, acenda incensos, cachimbos, eleve suas penas e reze!
É o tempo em que as coisas parecem estar adormecidas. Contudo, com a aparente dormência, um dos maiores crescimentos está ocorrendo. É no inverno quando as sementes permanecem congeladas dentro da terra, que elas pegam para sí as energias da terra que lhes permitem crescer nas estações por vir.
Que esta estação seja um período de profunda transformação e cura para você, que os ventos frios do inverno te tragam saúde, paz, equilíbrio e força para dar vida a seus sonhos.
Aho Mitakuye Oyasin
Madrinha Lua
@luadafloresta
@conexaoindigena
@lua_rosavermelha
Inspirações para este texto
Noites de insônia, madrugadas de inverno de 2024
Marta Vanaya — Mitos y Leyendas Algonkinos e Sioux
Leo Artese @xamanismouniversal www.xamanismo.com.br